Faltam só cinco dias para o eleitor jauense decidir quem vai ficar a frente da Prefeitura por quatro anos. Assim, hoje, finalizamos a nossa série de entrevistas, colocando a última no ar.
Cristiane Banhol, 43 anos, Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
Diário do Jahu
1 – Com a crise no setor calçadista na última década, o desemprego passou a ser uma realidade para milhares de famílias em Jaú. A situação foi agravada com a grave crise econômica nacional, que já se arrasta há pelo menos quatro anos. Como reverter essa situação?
Prosperidade não é enriquecer meia dúzia de parasitas, mas sim fazer circular a riqueza nas mãos dos trabalhadores, gerando desenvolvimento. Vamos inverter a lógica: Investigar os lucros e cobrar as grandes empresas que sonegam ou recebem incentivo do governo. Reverter as concessões das empresas como água e coleta de lixo que só engordam um punhado de favorecidos políticos e cobrar IPTU progressivo para investir em emprego e dignidade: Plano de Obras e Ampliação do Serviço Público, contratando centenas de trabalhadores. Apoio a pequenos proprietários e cooperativas de trabalhadores. Plano de Alimentação Municipal para incentivar a agricultura e pesca familiar na extensa área rural que, hoje tomada pelo agronegócio, emprega apenas 2,2%.
2 – O site da Prefeitura aponta que centenas de crianças estão na fila aguardando vaga em uma unidade de educação infantil (creche). É possível acelerar a construção de novos espaços para esse atendimento? Como?
Através do Plano de Obras e do Serviço Público trataremos da demanda de creches até postos de saúde. Junto com o investimento de 30% do orçamento na educação, um IPTU fortemente progressivo. para cobrar menos dos mais pobres e mais daqueles que até hoje enriqueceram controlando as terras da cidade, vai atacar a especulação imobiliária, gerando espaço e dinheiro que devem ser investidos na educação, e também saúde, moradia, cultura, esporte, emprego. O PSTU também encampa uma luta, infelizmente sem o apoio dos partidos das coligações do município, para que o Governo Federal cumpra a meta de investimento de 10% do PIB para a educação e universalização da educação infantil.
3 – Jaú apresentou dificuldade na contratação de médicos especialistas nos últimos anos. Como o senhor (a) avalia este cenário? Como resolver?
Faltam profissionais, pela elitização do curso de medicina, e faltam atrativos para a vaga, que tem salários e condições de trabalho ruins enquanto a prefeitura gasta em funções de indicação política mais que o dobro do que em médicos concursados para atender a população. Abriremos concurso com valorização para completar todo o quadro de profissionais. Se o prefeito não deixaria sua família sem médicos, por que deixa a da classe trabalhadora? Mas é urgente também inverter a lógica capitalista que forma pobres para mão de obra barata e ricos para ganhar dinheiro. Não faltam estudantes com sonho da medicina, falta acesso ao curso, pois saúde e educação neste sistema a educação e a saúde são tratadas como mercadorias e não como os bens essenciais que são.
4 – Pacientes têm reclamado da falta de medicamentos na rede básica de saúde, até mesmo os mais básicos, como omeprazol. Tem como a Prefeitura evitar o desabastecimento desses itens? Comente também sobre a relação entre Prefeitura e cirurgias eletivas.
Na nossa administração será a própria classe trabalhadora, em Conselhos Populares, que tomará as decisões para que o orçamento atenda às necessidades, como as cirurgias eletivas, e não os acordos políticos como é hoje. Também fiscalizará, impedindo que licitações irregulares sirvam de desculpa para desabastecer desde remédio até merenda. Mas vale lembrar que em 2017 Temer congelou por 20 anos o investimento em saúde (4.2%) com votos de todas as coligações da cidade. Não adiantam promessas de melhorar, ajudando a atacar. Precisa de recursos para resolver a situação. Hoje temos só 18 postinhos para atender 115 mil pessoas (6 mil por posto). Precisa de investimento, o resto é balela! Infelizmente temos o único plano de governo que afirma a defesa do SUS.
5 – Os índices de violência no município, com base em dados divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública, são satisfatórios. Porém, crimes contra o patrimônio – inclusive público – causam sensação de insegurança na população. Jaú precisa de uma Guarda Municipal? Ela será criada?
A princípio criaremos um Conselho Popular de Segurança, como os demais conselhos: com membros eleitos, sem privilégios e mandatos revogáveis. Este conselho deve debater e deliberar junto à classe trabalhadora a segurança que nós temos e a que nós precisamos. Defendemos a desmilitarização da polícia, por uma polícia comunitária com delegados eleitos e membros pertencentes ao bairro onde atuam. Em relação à segurança geral, precisamos de espaços públicos com bom uso, iluminação e manutenção, e uma política que garanta educação, lazer, emprego para nossa juventude, trate as drogas como saúde pública, e acolha a população mais vulnerável ou em situação de rua. Cidade segura é cidade digna para todos.
6 – Praças esportivas tradicionais como o Ginásio de Esportes Dr Neves e a Piscina Municipal não abrigam atividades desse gênero há muitos anos. Haverá recuperação desses espaços? Quando? Como voltar a desenvolver o esporte local?
Nosso Plano de Obras e Serviço Público, ao mesmo tempo que gera emprego e investe na economia local, deve tratar das necessidades da população, revitalizando os espaços existentes, construindo novos e oferecendo atendimento como escolas de esporte e outros projetos sociais. O mais importante é que as decisões sobre as prioridades sejam tomadas pelos Conselhos Populares nos bairros para garantir acesso às crianças e jovens da periferia, com estrutura de lazer, cultura e esporte em seus bairros, e condições de acesso aos equipamentos centrais, como passe livre e horário viável. Somos nós trabalhadores que produzimos as riquezas e conhecemos nossas necessidades, então somos nós que devemos decidir sobre o destino delas.
7 – Desde a desativação do Teatro Elza Muneratto, Jaú deixou de ter um palco municipal para apresentações com grandes públicos. Também gera mobilização em parte da população a ausência de eventos como a ExpoJaú, para comemoração do aniversário da cidade. Quais seus projetos para a área cultural?
No capitalismo a cultura é um bem de luxo e lucro! Hoje Jaú investe apenas 0,5% do orçamento em cultura e, sem participação popular nas decisões e fiscalização, fica apenas para poucos favorecidos políticos. Nas periferias é a própria classe trabalhadora e a juventude que se organiza como as batalhas de rap, projetos de poesia e hip-hop, bibliotecas comunitárias ou reparos em praças. Até o Centro de Astronomia é de iniciativa popular. Para nós a cultura é essencial para formação humana! A prefeitura deve apoiar a auto-organização e manifestação cultural, provendo os recursos e as estruturas como bibliotecas, praças, projetos sociais nos bairros. Deve discutir junto aos Conselhos Populares as prioridades e diretrizes para um teatro, uma galeria de artes e até a ExpoJaú.
8 – Com orçamento reduzido diante da crise econômica, é gritante a necessidade de investimentos estaduais e federais. Como e com quem pretende buscar esses recursos?
Realmente Jaú não é uma ilha e os problemas que vivemos aqui são ligados aos demais governos e ao sistema que gira para o acúmulo de capital de poucos às custas da exploração da maioria. Hoje metade do que arrecadamos vai para a fraude da dívida pública e os parlamentares só liberam emendas em troca de apoio para as políticas que nos levam para o buraco. É logico que vamos garantir todas as condições de adesão aos programas dos governos que beneficiem nossa população. Mas o que precisamos é de uma sociedade socialista, sob controle dos trabalhadores, para termos acesso à riqueza que produzimos e não precisemos alimentar este sistema sujo em troca de migalhas.
9 – Qual seu projeto para o Lago do Silvério e arredores?
O projeto para o Lago do Silvério e arredores, como espaço de lazer e esporte, entra no plano de obras públicas cujas prioridades devem ser definidas junto aos Conselhos Populares dos bairros. Em relação aos gastos exorbitantes das obras e ao problema de enchente que persiste, como mostrou a última chuva, faremos auditoria nas contas e estudo inclusive do impacto do condomínio no alagamento do Jardim São Crispim. Apenas um governo que trate o assunto com seriedade e independência política diante dos interesses envolvidos pode resolver de fato a situação.
10 – Com base num TAC assinado junto ao Ministério Público, Jaú precisa instalar galerias pluviais em aproximadamente 23 bairros até o final de 2025. Trata-se de um investimento milionário e que está ainda nos primeiros passos. Até agora, apenas a região do Jardim Santa Helena recebeu a melhoria. Essas obras serão realizadas? Como? Quando?
É urgente resolver um problema tão sério que aflige diretamente a classe trabalhadora que amarga alagamentos em toda temporada de chuvas, perdendo móveis e bens adquiridos com sacrifício, e até ficando desabrigadas. Existe um Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO) que deve subsidiar uma obra desta natureza. A falta de responsabilidade com o assunto não está demonstrada apenas na falta de solução, mas até na falta de transparência e de informação oficial sobre o assunto. Diante da urgência da demanda, assim que eleitas destacaremos uma equipe técnica para avaliar a situação e dar andamento nas obras.