Duas crises sérias, em 2008 e 2012, reduziram o setor de calçados em Jaú em pelo menos metade do que era até o início dos anos 2000. No ano passado, enfim, havia boas previsões de vendas e de lançamento de coleções que chamariam a atenção do público, o que deixava os empresários e colaboradores otimistas. Todos acreditavam que a retomada estava começando. A pandemia, porém, caiu como um oceano de água fria sobre as fábricas.
O presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Jaú, Caetano Bianco Neto, afirma que a pandemia foi ainda pior do que as duas crises. “Quando estávamos prevendo crescimento, tudo parou. Foi o pior momento em uma década”, lamentou.
Apesar desse momento ruim, a confiança dos calçadistas não terminou. Os empresários acreditam que voltarão a contratar e que poderão colocar seus produtos no mercado como haviam planejado antes da crise na saúde mundial. Inclusive, já começaram, pararam e recomeçaram várias vezes, sem nunca perderem a crença de que vão superar o novo obstáculo.
Disputa fiscal
O grande entrave às fábricas de Jaú, na verdade, não é falta de matéria-prima, consumidores, ou mesmo os concorrentes internacionais. Trata-se da disputa fiscal entre Estados brasileiros, que ainda assombra as linhas de montagem.
Enquanto Minas Gerais e Santa Catarina oferecem condições muito melhores na cobrança de tributos, em todos os itens que envolvem a produção de sapatos, em São Paulo o sistema fiscal faz com que o preço dos produtos feitos no Estado seja maior, e o lucro das empresas menor.
“Confiamos que em um momento, breve, conseguiremos ter a atenção do poder público do Estado, para que reveja e adapte o setor fiscal. Não queremos causar prejuízo, mas queremos poder concorrer com aqueles que já conseguiram esse benefício há muito tempo”, desabafa Bianco Neto.
Enquanto aguardam por melhores condições, para que os calçados de Jaú possam concorrer com os vizinhos mineiros e catarinenses, os calçadistas na cidade exercitam a boa e velha técnica de moldar o couro, em meio à uma grande dose se resiliência.
O setor de calçados se mantém em recuperação lenta, mas constante, e há expectativa de que volte a crescer. Atualmente, aproximadamente nove mil empregos são gerados por essa indústria, se considerados os diretos e indiretos.
Na série especial “Jaú, 168 anos”, o Diário do Jahu ainda publicará outras reportagens sobre a economia da cidade.