Ter dor na bochecha depois de tanto dar risada, com certeza, é uma das sensações mais gostosas do mundo. O riso causa bem estar e conecta pessoas, desviando-as de situações de estresse e dificuldades cotidianas. Ninguém conhece mais sobre isso do que as pessoas que se dedicam a provocar boas gargalhadas. É o caso do grupo jauense Remédicos do Riso, que atua junto aos pacientes do Hospital Amaral Carvalho.
Recentemente, o riso se tornou material de estudo científico e houve comprovação de que é o responsável por fortes transformações causadas no corpo físico, já que preenche a mente de maneira dócil e alegre. Segundo o pesquisador japonês, Hidehiko Takahashi, o riso aumenta a atividade das células que são importantes na defesa contra tumores, ou seja, a risada e o bom humor têm efeitos excelentes nos componentes imunológicos.
É com base nesses estudos que os Remédicos entram no quarto dos pacientes do hospital com um único objetivo: o de fazê-los sorrir. Com muito bom humor, os clowns, como são chamados os palhaços do projeto, deixam do lado de fora todos os seus problemas e enxergam o paciente além da sua doença. Junto a uma equipe de coordenadores, treinadores e psicólogos, eles vão além do que vêem sentados na maca. Querem saber dos sonhos daqueles que ali estão, das suas aventuras e dos seus sentimentos.
Os Remédicos do Riso
O grupo de voluntários teve início em 2001, mas só adotou, oficialmente, o nome Remédicos do Riso em 2009. Hoje, ele conta com mais de 60 pessoas atuando como clowns. Segundo a voluntária Heloisa Ferraz, o objetivo do projeto é descontrair os pacientes do Hospital Amaral Carvalho e da Casa Ronald McDonald, “nós não curamos ninguém, mas proporcionamos um momento de descontração para ele e para seus acompanhantes. Fazemos palhaçadas, cantamos, dançamos, tudo para que eles consigam se lembrar de quem realmente são”, disse Helô.
Quem são os clowns?
No momento, são 60 pessoas que resgatam a sua criança interior – como bem diz a terapeuta Jaci Finato – de maneira voluntária, se vestem de palhaços e se dispõem a levar sorrisos aos pacientes do hospital. Os voluntários têm que ter muita força de vontade, ser maior de 18 anos, ter comprometimento, disponibilidade de tempo e passar por um processo de aprendizagem que dura cerca de um ano.
Os clowns fazem visitas em três dias na semana, na quarta-feira, no sábado e no domingo. Na pandemia, os dias não mudaram, mas o jeito de entrar no quarto do paciente tornou-se mais moderno. A fim de proteger os voluntários e internos, as visitas são feitas por chamada de vídeo. Elas duram em torno de meia hora e quarenta minutos e apesar de não serem pessoalmente, dão conta do principal recado: o de espalhar sorrisos.
O voluntário Rodemir Meschieri, ou Dr. Midiga como é conhecido dentro do grupo, sempre teve vontade de participar do grupo, “eu era encantado pelo trabalho de todos os palhaços de hospitais e resolvi fazer parte de um. Escolhi os Remédicos e encontrei uma seriedade e responsabilidade até então desconhecida por mim. Achava que era uma brincadeira, uma simples diversão, mas é um trabalho muito sério e necessário.”
Helô, ou melhor clown Saracura, foi cativada pelo projeto ao descobrir que ele unia arte e voluntariado, “eu trabalhei como contadora de histórias, fui atriz de teatro de bonecos e sempre fui apaixonada por artes. Quando retornei a Jaú, depois de passar alguns anos fora da cidade, tinha certeza que queria participar”. Saracura ainda acrescenta que não há nada que pague a gratidão de um trabalho voluntário, “a gente pensa que ao fazer voluntariado, estaremos só ajudando as pessoas, quando na verdade nós somos os maiores beneficiados. Os Remédicos me fortalecem pessoalmente e profissionalmente. Não fui eu quem escolhi os Remédicos, eles quem me escolheram”, contou.
Por trás dos clowns, uma equipe
Como em uma batalha, os clowns nunca trabalham sozinhos. Nas visitas, estão sempre em pequenos grupos, mas por trás das cortinas do riso há profissionais que os fazem segurar a barra da emoção ao entrar nos quartos.
Jaci Finato, uma das três terapeutas do projeto, é musico terapeuta e psicoterapeuta corporal, e está no projeto desde a sua fundação, no começo da década 2000. São elas as responsáveis por dar apoio e suporte, tanto a nível emocional, quanto na preparação do próprio personagem. “Antes de se tornarem clowns, há um processo de formação que dura um ano. Nessas oficinas, ajudamos os voluntários a desenvolver recursos emocionais e criativos para que eles possam se tornar um palhaço, entrar no hospital e interagir com os pacientes, levar sorriso e alegria, que é o que eles precisam”, contou Jaci.
Para Rodemir esse suporte é importante para saber lidar da melhor maneira com a situação, “as oficinas são peças importantes no projeto, elas nos dão todo o suporte necessário, nos ensinam a olhar nos olhos do paciente, ir além da doença, prestar atenção na pessoa. Isso é uma forma de humanizar o atendimento, porque ele não é a doença, ele só está doente”.
Os voluntários desabafaram ao contar que já passaram por situações delicadas, nas quais não se envolver estava fora de cogitação. “O paciente tem uma carência muito grande. Ele geralmente está fora de casa, com saudade da família, dos colegas, da escola, é tudo muito diferente dentro do hospital. Na hora, tentamos não nos envolver com aquela situação para que não fique um clima pesado no quarto”, explicou Heloisa, e Rodemir completou, “Não é que a gente não fica pensando nisso depois, a gente fica, sim, porque somos humanos, mas graças aos treinamentos com nossas psicólogas a gente consegue dar um jeito de não deixar transparecer o quanto ficamos abalados”.